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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

A HISTÓRIA DO TOUCHSTYLE

por Jorge Pescara




A história do touchstyle technique é longa e, por conta de algumas confusões e mal entendidos, um tanto nebulosa. Antes de analisar (e talvez) avaliar cada instrumento e, até mesmo, para entender o que levou algumas pequenas indústrias e luthiers a desenvolver e construir instrumentos peculiarmente próprios para a utilização de técnicas tão específicas como o tapping, temos que em primeiro lugar, dar uma geral nos criadores e inventores destas incríveis ferramentas.





Tapping-on (também chamado de: Two Hands,Two HandTapTouchStyleTouch
SystemTapStyleFinger TappingHammered StringTouched TechniqueChapman TechniqueString PercussionTypewriter Technique, Triplo DomínioDigitação Dupla, etc...), segundo o Dicionário Musical Hal Leonard: literalmente “dar pancadinhas nas cordas da guitarra ou baixo elétrico. Fazer soar uma nota martelando a corda com pancadas dos dedos”. Hoje em dia esta é uma técnica difundida no mundo inteiro por mestres do naipe de: Stanley Jordan, Tony Levin, Trey Gunn, Nick Beggs, Victor Wooten, Eddie Van Halen, Michael Hedges, Michael Manring, Steve Vai, Allan Holdsworth, Michael Hedges, Stuart Hamm, Billy Sheehan, Alphonso Jonhson, David Torn, Jennifer Batten, David Lynch, Chico Gomes, Zuzo Moussawer, Sydnei Carvalho, Márcio Eiras, Eduardo Agni, André Geraissati, Badi Assad... até mesmo Pino Palladino já usou um Stick e o saudoso John Entwistle (The Who) usou o tapping com suas tercinas rápidas dos quatro dedos da mão direita! Porém existem outros mestres que desenvolvem e expandem esta técnica em instrumentos próprios e que são pouco conhecidos por aqui.


COLOCANDO OS PINGOS NOS Ís




De acordo com Nashville Songwriter's Hall of Fame (www.songs.org/~nsf/frame-hof.html), o músico instrumentista Merle Travis (1917 – 1983), cujos créditos incluem 7 discos de ouro e 12 BMI awards, (tais como Sixteen Tones e Smoke, Smoke, Smoke that Cigarette!) foi o primeiro a tocar em uma guitarra, nos anos 40 (!) melodias e harmonias independentes, ao mesmo tempo, percutindo os dedos de ambas as mãos nas cordas! Alguns anos após, o guitarrista James Donart Webster, ou simplesmente Jimmie Webster, 11 de Agosto de 1908 – 11 de Abril de 1978 (www.geocities.com/websterfiles/webster.html#story) lançou o método Ilustrated Touch System for Electric and Amplified Spanish Guitar™ [Copyright in 1952 by the William J. Smith Music Company in New York], onde descreve esta técnica e seu modo de operação. Na página seis deste livro podemos ler claramente:
"Touch System means playing the guitar like a piano. Both hands are employed to reproduce musical tones much in the same fashion, as you would play a piano. "Just by pressing down on chords with the fingers of the left hand, you create a fine accompanying background for right-hand solo-work. "The solo part for right-hand will strike the strings on higher frets with the finger-tips. By combining the left and right hand, you can obtain the results of two guitars playing together."



 Pode-se notar uma foto neste mesmo livro demonstrando Jimmie com uma guitarra semi-acústica posicionando sua mão direita paralela ao braço do instrumento. Tal posicionamento não facilitava a digitação, mas estamos falando de 1952, era o início de toda a saga. Jimmie desenvolveu a idéia de seu touch system após observar o também visionário Joe Harry DeArmond tocar alguns hammer-ons na guitarra para demonstrar a sonoridade de seus captadores. Outros nomes seguiram estes passos como foi o caso de Mark Laughlin. Interessado no desenvolvimento do instrumento para, com isso, facilitar a execução do recém criado tapping, Webster obteve em 1960 a U.S. Patent # 2,964,985 para o designe de um só pick-up stereo com as saídas das cordas de baixo e guitarra independentes. Ambos os grupos de cordas estavam no mesmo braço, mas o pickup magnético dividia o sinal das cordas graves para um amplificador e das cordas de melodia para outro amplificador separado. Esta patente foi licenciada para a Gretsch guitars. Nesta época Webster viajava o país inteiro como endorse da marca de guitarras além de demonstrar suas técnicas em temas compostos por ele ou rendições de clássicos de jazz como Caravan de Duke Ellington executando Ainda nos anos 50, o luthier e músico norte americano Dave Bunker, começou a desenvolver a idéia de um instrumento com dois braços para o uso exclusivo do tapping. 

Um contrabaixo normal com quatro cordas e o outro com seis cordas de guitarra, porém com o braço reto. Além disso, o instrumento teria uma esponja para abafar as cordas entre o primeiro traste e o capotraste. O instrumento, batizado de Duo Lectar™ recebeu a U.S. Patent # 2,989,884 em 1961. Bunker escreveu e comercializou um método de touch system (two hands) para a utilização do instrumento. Desde então, Bunker tem desenvolvido diversos apetrechos de hardware para melhorar a performance e tocabilidade de guitarras e contrabaixos. Dentre as criações mais importantes podemos apreciar o electronic mute (U.S. Patent # 5,162,603) que habilita o músico a abafar as cordas que não estão sendo digitadas, sendo ótimo para o tapping, o  Improved Tremolo Guitar Mechanism U.S. Patents # 5,431,079, oAnti-Torque Neck Adjustment Device # 5,018,42, e o The Wedge, # 4,201,108 uma guitarra elétrica com as partes do corpo removíveis e intercambiáveis. Bunker também foi o primeiro a desenhar e construir uma guitarra headless com as tarraxas na base do corpo (instrumento muito difundido pela fábrica Steinberg nos anos 80), e o primeiro bodyless instrument(construído, ainda, nos anos 50), o individual-string through-the-body bridge, o reflection shield (um conector de metal que transmite agudos da ponte para o braço), os individual-string pickups, as conhecidas fine-tuners (micro afinações para guitarra), e muito mais! Tudo isto com a mente voltada a facilitar a inovadora técnica. Já no final dos anos 60, início dos 70 o, então, jovem pesquisador e guitarrista Emmett Chapman re-descobriu a técnica e tornou-se um ícone para o mundo do two hands com sua invenção: The Stick. 

Com o diferencial de que na técnica de Emmett as mãos ficam em posição perpendicular ao braço do Stick, e este permanece em posição semi-vertical. Para a digitação de escalas, arpejos e acordes a mão do músico permanece parada em uma única posição alcançando uma gama enorme de notas. Já na técnica anteriormente citada (Webster, DeArmond e outros), a mão direita paralela ao braço faz com que somente os dedos indicador e médio tenham liberdade. Conclusão, no caso desta última, para a execução de uma escala são necessárias mudanças e movimentos de braço e ombro. À partir de 1974 Emmett formou uma legião de fãs, amigos, simpatizantes e alunos da técnica e do instrumento. Dentre eles estava o jovem Stanley Jordan. Antes de ser famoso Jordan costumava freqüentar a oficina da Stick Enterprise, além de costumeiramente passar horas ao lado de Jim Bruno e Bob Cullbertson, ambos Stickstas de primeira qualidade, para aprender mais sobre o tapping. A esta altura alguém já deve estar se perguntando: Mas não vivem dizendo que foi Stanley Jordan que criou o tapping?.. 

Bom! Talvez não seja culpa dele, Stanley Jordan que é um ótimo guitarrista, foi apenas incluído em uma jogada de marketing da gravadora na época de seu primeiro disco, já que até aquela altura a mídia despertara pouco para os verdadeiros pais da técnica. Sem levarmos em consideração a apresentação de uma hora de duração de Emmett Chapman demonstrando o Stick com tapping em um programa de televisão chamado “What’s my Line?”, e isto em 1976! Porém, o certo é que o tapping já existia a pelo menos 20 anos quando o primeiro disco de Stanley Jordan saiu. Não entendam isto como uma crítica a ele, pelo contrário, o cara foi importantíssimo na divulgação da two hands, mas, verdade seja dita, longe de ser o criador da técnica e mesmo do tipo de repertório gravado. Existem uns três discos de Stickistas que foram gravados antes dos de Jordan, com a mesma técnica, só que executados no Stick e com uma sonoridade primorosa, além de um repertório bem similar, ou seja, temas pop mesclados com standard de jazz, executados com acompanhamento de acordes, walking e solos simultâneos (somente para refletirmos um pouco sobre as armadilhas da indústria fonográfica!). Aqui mesmo no Brasil em plenos anos 90 um pequeno selo paulista saiu alardeando que um violonista, ótimo por sinal, acabava de criar uma técnica de bater com os dedos nas cordas de um violão folk... e olha que já havia discos de, por exemplo, Michael Hedges, (só pra citar um) gravados usando esta mesma técnica, nos anos 80, ou seja, somente 10 anos antes do criador brasileiro do “tapping no violão folk”. (!) Polêmicas à parte, após estas extraordinárias criações, somente eclipsadas pelo nascimento do slap, que obteve mais mídia, guitarristas, violonistas e baixistas começaram a desenvolver o tapping nos anos 80 infestando todos os estilos musicais possíveis. Discos de fusion, rock, metal, blues, r&b, pop, new age, world music, progressivo, latin music, jazz e até música brasileira e oriental podem ser encontrados contendo alguma (ou todas as) faixa(s) de tapping. Os nomes são todos conhecidos, mas os créditos de criação devem a partir de agora ser dados aos verdadeiros pioneiros do two hands.




O MANANCIAL
Hoje em dia podemos executar esta técnica em qualquer instrumento ocidental de cordas, baixo elétrico, guitarra, violão, baixo acústico, banjo, cavaquinho, viola e até mesmo no violino! Podemos até dividir a tipologia do tapping em várias áreas específicas de atuação tais como: rápidos arpejos e escalas em hammered-on (ex: Eruption de Eddie Van Halen e Birds of Prey de Billy Sheehan), melodia acompanhada do tipo tema-acordes-linha de baixo-solo (All the Children de Stanley Jordan e Charmed Life de Greg Howard), poliritmia (Calling for London de Trey Gunn e Elephant Talk de Tony Levin), contrapontos (Layover de Michael Hedges e Watson & Crick de Michael Manring) e por aí vai. Pode-se optar por qualquer destas áreas, ou mesmo mescla-las. Para isto, existem no mercado diversas fontes educativas, tais como: video-aulas, DVDs, CD-Roms, Cds, K7s, livros e professores das mais diversas tendências estilísticas ensinando esta arte nas escolas de música.  A comunidade internauta não deixou por menos e iniciou vários grupos de discussão, pesquisa e divulgação de Stick (e outros instrumentos de tapping), tais como o StickWireTouchstyle, Tap Talk e outros. Para se ter uma idéia do que estes sites (verdadeiros clubes!) disponibilizam: arranjos e estudos em partitura, gravações em MP3, MIDI, arquivos de MPEG com vídeos, jornais e informativos (MegaTapper News, The TouchStyle Quaterly™, etc) distribuídos aos associados, eventos (seminários, shows e workshops) na Europa, Japão e América, aulas virtuais e até programas interativos como o complexo Xstick .096 Beta version™ do stick player Stew Benedict, construído à base de protocolo Tcl que visualiza o fretboard do instrumento e permite total interação entre sons via MIDI, partitura e tablatura. O Baliset™ do Stick player japonês Toshi Fujita que possui interação via MIDI para Mac, oInterChart 2.0 do tapping maniac David J. Grossman com visual interessante, o Fretboard Visualizer do baixista e Stick player Russell Keating, com algumas possibilidades de visualizar escalas e acordes além do simples, mas efetivo, JavaGuitar Tool. Livros, vídeos, dvds e gravações também não faltam quando se trata de guitarra e contrabaixo tapping. Abaixo segue uma pequena amostragem do que se pode encontrar no mercado quando o assunto é tapping no StickBass, WarrBass e MegatarBass, etc:


LIVROS


Free Hands Emmett Chapman (Stick Enterprise inc.
The Stick Book + Cd Greg Howard (Stick Enterprise inc.)
TouchStyle Songbook Frank Jolliffe (TouchStyle Publications)
My Space, My Time Daniel Shell (TouchStyle Publications)
Gira, Girasole Daniel Shell (TouchStyle Publications)
Easy TouchStyle Bassics Traktor Topaz (Mobius Megatar ltd.)
The Dave Bunker Method Book Dave Bunker (Bunker Guitars)
Tapping the Flame for Warr Guitar Ray Ashley (TouchStyle Publications)
Rapid Fire Bass for Warr & Stick Frank Paul (TouchStyle Publications)






VÍDEOS & DVDsUn Viaje Clássico 


VHS Bob Culbertson (Stick Enterprise inc)
Hands Across the Board VHS Emmett Chapman (Stick Enterprise inc)
Lessons on the Stick VHS Bob Culbertson (Stick Enterprise inc)
The Stick Night 99 VHS Shows (Stick Enterprise inc)
HandiWork VHS Greg Howard (Stick Enterprise inc)
Solo Flight VHS Bob Culbertson (Stick Enterprise inc)
Bass Day 1997 Highlights DVD Tony Levin with Stick (DCI Music Video)






Peace .:.








            

2 comentários:

  1. Jorge, muito bom e informativo este seu texto. E eu que pensava que o Jordan era "o cara" do tapping, embora já tenha visto o Chico Gomes tocar com esse estilo por várias vezes. Valeu!!!

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    1. Olá Fernando, obrigado por interagir no Blog.
      Na verdade o Stanley Jordan ''é o cara do tapping na guitarra'', o que o texto mostra é que ''ele não criou a técnica'', pois esta já existia há muitas décadas antes...
      Não vamos menosprezar as habilidades deste grande músico e de muitos outros que nos trazem boa música, pois este não é nosso objetivo, ok?
      Não se esqueça que por aqui temos o Chico Gomes, o Zuzo Moussawer, o Nilton Wood, o Marcinho Eiras, o Sydnei Carvalho e tantos outros fantásticos músicos do tapping ;)
      Abrx,
      Peace .:.

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