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segunda-feira, 24 de junho de 2013

INSTRUMENTOS ESPECÍFICOS PARA TAPPING parte1

por Jorge Pescara
The Chapman Stick


A primeira vez que vi e ouvi um desses estranhos instrumentos foi quando eu era garoto, por volta de 1978, em um programa de clipes musicais da TV Cultura SP chamado Som Pop. O final dos anos 70 era uma época de ouro. Fervilhavam vídeo clipes e trechos de shows dos mais diversos: Kate Bush com seu Wuthering Heights, Cat Stevens com Moonshadow, Dire Straits e Sultans of Swing, Genesis com o clipe de I Know What I Like ao vivo, Kiss com Detroit Rock City e um obscuro show de Peter Gabriel com um, então, emergente baixista no cenário mundial: Tony Levin. Dos vários trechos deste show lembro-me claramente de duas pérolas do contrabaixo: A música Family Snapshot apresentava Mr. Levin com um fretless quatro cordas e escala de alumínio, além de um esquisito instrumento com várias cordas e uma sonoridade de contrabaixo na música Biko.
Após esta primeira exposição ao Stick (do qual eu não sabia nem o nome na época), vieram os anos 80 e, com eles, o BRock das mais variadas bandas. Uma das que me chamou a atenção foi a banda do tecladista performático Akira S & as Garotas que Erraram. Akira, um baixista nissei, aparecia em um show empunhando um Stick, foi o máximo!
Estava escrito: No futuro tocarei este baixo...
Bom! O Stick não é bem um contrabaixo, ele é mais do que isto. Diz-se por aí que o baixo é um triplo instrumento, que proporciona a base rítmica (junto com a bateria), a contra-melodia e a base ou fundamento harmônico. Somente devemos acrescentar que isto tudo está inserido implicitamente nas conduções (ou grooves) do instrumento. Por outro lado o Stick é harmônico, melódico e rítmico no sentido lato da expressão. Na verdade pode ser considerado como um instrumento realmente stereo com dois jogos de cordas distintos (podendo ser amplificado independentemente cada lado) onde acordes, linhas de contrabaixo, melodia, solos e ritmos podem ser explorados através da técnica de tapping. Vejamos onde isto nos levará:


O CRIADOR

Nossa história começa em um quente final de tarde sul-californiano de 26 de Agosto de 1969, onde um guitarrista, na época amador, de nome Emmett H. Chapman encerrava mais um dia de estudos jazzísticos. Emmett, que na época idolatrava nomes como Oscar Peterson, McCoy Tyner e Jimi Hendrix pesquisava formas de expressão diferenciada das convencionais, unindo o conhecimento jazzístico com a liberdade elétrica do rock. Nesta tarde, porém, exatamente as 18:30hs (hora local) suas mãos começaram a bater nas cordas com as pontas dos dedos extraindo sonoridades incomuns. Logo em seguida ele resolveu inclinar o braço da guitarra para uma posição mais vertical, facilitando assim a digitação. A história começava a ser escrita. Note que, apesar de estarmos falando do ano de 1969, não era a primeira vez que alguém executava o two hands no braço de uma guitarra. Nos anos 40 Jimmie Webster desenvolveu a técnica e lançou um obscuro livro com suas descobertas, porém contaremos esta história na próxima edição para extirpar as dúvidas e confusões que reinam sobre o tapping... Após esta primeira experiência Emmett partiu para adaptações em sua guitarra. Tais modificações consistiam em aumento de número de cordas (logo de início a inclusão da sétima corda, SI grave, abaixo do MI), ajustes no designe do corpo do instrumento, construção e modificação de outro braço mais largo e reto, enfim tudo o que pudesse proporcionar maior conforto, tocabilidade e expressividade. As conclusões iam se alternando e os avanços técnicos da parte de construção levaram Chapman a iniciar o projeto de um protótipo de nove cordas com um enorme captador localizado sobre as cordas, ao invés de embaixo delas. Seguiram-se outros protótipos, até a confecção do primeiro modelo industrializado, batizado de nº101 em 1974.  Tony Levin contou em entrevista recente como descobriu o Stick: “Nos anos 70 comecei a ouvir rumores sobre este novo instrumento que servia exclusivamente ao tapping. Nesta época eu costumava tocar muito com esta técnica no contrabaixo, assim muitas pessoas começaram a falar que o tal Stick era um bom instrumento para eu tentar. Após testa-lo, encontrei um mundo de oportunidades bem ali, ao lado do estilo tapping.“ Enquanto isso, Alphonso Jonhson, na época baixista do grupo Weather Report ao lado de Joseff Zawinul, Wayne Shorter e o brasileiro Dom Um Romão, iniciou suas  pesquisas sonoras com o Stick: “Certa vez eu estava descendo uma rua em Santa Monica – Califórnia – e ouvi uma sonoridade diferente vindo de um pequeno restaurante com música ao vivo. Quando entrei vi Emmett Chapman tocando o recém criado Stick somente com um baterista e fiquei hipnotizado. Após me apresentar a Emmett e conversarmos amenidades sobre música em geral resolvi encomendar um Stick. A possibilidade de tocar linhas de baixo e melodia ao mesmo tempo, me interessava enormemente.

No começo tudo o que fiz, por seis semanas seguidas, foi somente observar o instrumento no canto do quarto e tentar imaginar o que eu poderia fazer com ele, como ele poderia soar. É claro que quando finalmente, peguei no Stick comecei a tocar escalas, arpejos e progressões de acordes para adquirir um vocabulário para poder me expressar. Passei então um bocado de tempo tocando e praticando muito em casa, compondo temas e canções. Minhas habilidades técnicas nele não são tão fluentes quanto de outros Stick players, porque eu uso-o com propostas composicionais, ao contrário de usa-lo como instrumento solista. Além disso, muitas das bandas das quais participei já tinham guitarristas e tecladistas juntos, que preenchiam todo o espectro harm
ônico.” Com estes dois ícones do contrabaixo mundial fazendo o papel inconsciente de garotos propaganda o Stick ganhou fama rapidamente, levando Emmett para vários programas de televisão e entrevistas em revistas famosas. Até mesmo uma foto do, então garoto, Stanley Jordan pode ser vista no escritório da Stick, mostrando Jordan tendo aulas de tapping com o instrumento nos fins dos anos 70.  Hoje em dia pode-se encontrar um Stick exposto no famoso Smithsonian Institute ou como verbete do famoso dicionário musical Hal Leonard onde se lê: “Stick (Chapman), Instrumento elétrico de dez cordas (cinco de baixo e cinco de guitarra), com uma extensão de cinco oitavas, que utiliza uma técnica de pequenas batidas nas cordas.”

A CRIATURA
 
 THE STICK (www.stick.com) O instrumento de Emmett Chapman, que teve seu primeiro protótipo em 1969 e o primeiro a ser construído e comercializado em série em 1974, é assim constituído: Madeiras sul-americanas e africanas (tais como: Pau-Ferro, Teak, Oak, etc) são usadas para esculpir o Stick em uma única peça sem parafusos ou colagens, escala de 34¨ contendo 25 trastes e, no modelo tradicional, 10 cordas dispostas em dois grupos distintos, cobrindo 5¼ oitavas, onde o grupo de cordas agudas (de melodia) estão em quartas justas com a mais grave delas no centro do braço indo para o extremo inferior, sendo que a mão direita cruza o braço para toca-las e o grupo das cordas de contrabaixo dispostas com a mais grave (e espessa) também no centro, seguida das outras para o extremo superior, afinadas em quintas justas. Estas, executadas através da mão esquerda. O fabricante trás como opção de encordoamentos próprios fabricados pela D’Addario ou GHS com as seguintes especificações: .007¨, .008¨, .010¨, .014¨ e .022¨ para o grupo de cordas agudas, sendo .092¨, .065¨, .040¨, .022¨ e .013¨ para as cordas graves. Como se pode perceber, uma disposição (patenteada pelo fabricante) pouco usual, com as cordas graves no centro do braço e as agudas nos extremos, em dois grupos de quartas e quintas, mas que permite uma possibilidade infindável de padrões melódicos e harmônicos. Emmett Chapman diz que os proprietários de Stick podem optar por qualquer afinação que desejarem (dois grupo de cordas de guitarra, um de guitarra com o outro de contrabaixo, um de guitarra e outra com afinação de violino, etc…) desde que usem bitolas (espessuras) corretas de cordas e façam os necessários ajustes de tensor, ponte e capotraste.  Emmett adota como padrão a seguinte  afinação:

D A E B F# C G D A E. Enormes marcações (dots) estão distribuídas nos 2º, 7º 12º, 17º e 22º trastes. O instrumento vem com 10 mini tarraxas Gotoh, porém com abertura para as grossas cordas de contrabaixo. Também, o patenteado Fret-Rod™ design, que são trastes enormes e redondos feito de uma liga muito forte de metal, incrustados no braço; uma tira de velcro colada ao primeiro traste para abafar as cordas e prevenir ruídos não intencionais (ex: cordas esbarradas pelos dedos); uma ponte totalmente ajustável (altura, posição e extensão de cada corda) e um captador stereo double-coil humbucking (também totalmente ajustável com relação à angulação e altura dos pólos magnéticos) encapsulado em case de plástico moldado e metalizado com fibra de carbono/grafite condutivo, para prevenir a perda de agudos, fazem parte do hardware. Este último aspecto trás como único inconveniente um pouco de crosstalking (vazamento de sinal) entre os dois captadores. Apenas dois simples controles de volume!

É tudo que o instrumento tem de eletrônica, para, segundo seu inventor, privilegiar o sinal sem interferências O tensor possui ação dupla, funcionando nos dois sentidos, além de um gancho (Belt Hook) para prender o instrumento ao cinto e uma correia presa ao capotraste que é usada por trás do pescoço e do braço esquerdo do executante.  Desta forma o Stick é posicionado 75º em relação ao eixo do corpo do instrumentista e facilita a digitação em tapping por permitir que ambos os pulsos permaneçam retos enquanto os dedos estão perpendiculares em relação às cordas, ao contrário da guitarra e contrabaixo que ficam quase horizontais em relação ao corpo do músico. No lugar do tradicional capotraste o Stick vem com vários parafusos para ajuste de altura, sendo um de cada corda. O hard case fornecido com o Stick vem com um exemplar do método Free Hands escrito e editado pelo próprio Emmett Chapman, além de um cabo Y stereo, chaves para manutenção do instrumento e uma estreita correia de couro usada entre o braço e o pescoço do Stick player. São construídos, uma média de 80 instrumentos por mês.

            Além do The Stick us$1,341.00 outros modelos de Stick são construídos e comercializados, tais como o Grand Stick de 12 cordas us$1,641.00, o Stick Bass de 7 ou SB8 de 8 cordas, onde as cordas estão dispostas normalmente como no contrabaixo elétrico (a mais grave no extremo superior seguida das outras afinadas em quartas justas: B E A D G C F Bb), o NS8 Stick construído em conjunto com o luthier Ned Steinberg com fibra de carbono/grafite, além do AcouStick que é um Stick com cordas de nylon e caixa de ressonância acústica, como um violão. Outras possibilidades podem ser encomendadas para customizar o instrumento, como: metade do braço fretless, metade com traste, um lado fretless outro não, captadores MIDI baseado na IVL's guitar-to-MIDI technology (essencialmente um conversor Pitchrider 7000 Touch Board MIDI, com algumas mudanças no software para acomodar melhor às características do The Stick) com as 5  cordas agudas via MIDI. Isto adiciona us$900 ao custo final do instrumento. Dos usuários mais famosos do Stick podemos citar: Tony Levin (artista solo, Peter Gabriel, King Crimson e gravou usando o Stick em discos do Pink Floyd e Yes), Alphonso Johnson (artista solo, Weather Report), Nick Beggs (John Paul Jones Band, Kaajagoogo), John Myung (Dream Theater) e outros. No Brasil é raro encontrar profissionais que gravem e/ou toquem este instrumento, com exceção do baixista Akira S que gravou alguns bons pop-rocks nos anos 80 usando o Stick (inclusive em um vídeo clipe da banda “Akira S e as Garotas que Erraram”), do violonista André Geraissati que possui um modelo de 10 cordas, de mais uns dois ou três donos de Stick incógnitos pelo país.
Com isto, atualmente somente este que humildemente vos escreve, trabalha profissionalmente em gravações com o StickBass atualmente no Brasil (Cds “Lake of Perseverance” de Dom Um Romão, “Love Dance” de Ithamara Koorax, ZERØ “ElectroAcústico”, “Street Angels” com Luís Bonfá e “Brazil All Stars-Rio Strut” com Eumir Deodato). A sonoridade do Stick varia, é claro, conforme o modelo, mas o timbre em geral possui uma compressão natural, onde os graves possuem muita profundidade com decay curto, enquanto os agudos são claros e cristalinos (dependendo do desenvolvimento técnico de cada executante). Uma verdadeira percussão com notas!

O Stick acaba por se tornar um sinônimo de Tapping, pois além de ter sido projetado e construído com esta finalidade permite ao músico executar duas partes musicais independentes entre si, onde cada mão permanece atuante em um grupo específico de cordas, como por exemplo: condução de baixo na mão esquerda e melodia com a direita, ou condução de baixo na mão esquerda e harmonia com a direita, ou ainda condução de baixo junto com acordes (harmonia) na mão esquerda e melodia com acordes na direita… é claro que, como em qualquer outro amplo aspecto musical, pode-se quebrar estas regras a qualquer momento! O fato dos captadores serem em stereo faz com que se possa enviar o sinal das cordas agudas para processadores de efeito tais como reverb, distortion, delay e flanger enquanto as cordas graves podem ir para um compressor, envelope follower e tremolo, por exemplo.


QUEM É QUEM...

Diversos caminhos foram, ou, estão sendo trilhados pelos stickistas nestes anos todos. Podemos citar os principais como os bateras que usam o Stick para aplicações atonais poliritmicas com rudimentos e padrões, tecladistas que usam seu conhecimento harmônico-melódico para explorar todas as possibilidades de textura do 12 cordas, guitarristas que aplicam seus licks de rock e jazz nas cordas agudas enquanto fazem o auto-acompanhamento com a mão esquerda em acordes e linhas de baixo, violonistas clássicos que transpõe para o Stick peças de Bach e Segovia, além é claro, dos baixistas, que com fácil adaptação, extraem belíssimas linhas funk com as cordas graves. Estima-se que no início do ano 2000 seriam cinco mil usuários espalhados pelo mundo do jazz ao rock, passando pela fusion, funk e r&b chegando ao pop, clássico e latin music com ritmos africanos e brasileiros como o próprio Emmett Chapman, seguido de Trey Gunn, Greg Howard, Bob Culbertson (América), Virginia Esplendore (Itália) in memorian, Guillermo Cides (Espanha) e Diego Souto (Argentina) dentre outros. Dos baixistas usuários mais famosos do Stick podemos citar:

Tony Levin (artista solo, Peter Gabriel, King Crimson e gravou usando o Stick em discos do Pink Floyd e Yes), Alphonso Johnson (artista solo, Weather Report), Nick Beggs (John Paul Jones Band, Kajagoogoo), John Myung (Dream Theater) e outros. No Brasil é raro encontrar profissionais que gravem e/ou toquem este instrumento, com exceção do baixista Akira S que gravou alguns bons pop-rocks nos anos 80 usando o Stick, do violonista André Geraissati que possui um modelo de 10 cordas, do músico e engenheiro de som (Berklee College) Otávio Brito, empresário da AMI importadora de instrumentos musicais, que também toca um Warr guitars (instrumento similar ao Stick) e mais uns dois ou três donos de Stick incógnitos pelo país, não se tem notícias confirmadas sobre Stickistas  brasileiros. Com isto, somente este que humildemente vos escreve, trabalhou profissionalmente em gravações com o StickBass no Brasil (Cds “Lake of Perseverance/Irma records Italy-2001” de Dom Um Romão, “Love Dance/Fantasy records-2003” de Ithamara Koorax, ZERØ “ElectroAcústico/Sony-2000”, “Street Angels” de 1999 com Luís Bonfá e “Brazil All Stars-Rio Strut/Milestone-2003” com Eumir Deodato). O Stick acaba por se tornar um sinônimo de Tapping/TwoHands/Touchstyle


, pois além de ter sido projetado e construído com esta finalidade permite ao músico executar duas partes musicais independentes entre si, onde cada mão permanece atuante em um grupo específico de cordas, como por exemplo: condução de baixo na mão esquerda e melodia com a direita, ou condução de baixo na mão esquerda e harmonia com a direita, ou ainda condução de baixo junto com acordes (harmonia) na mão esquerda e melodia com acordes na direita… é claro que, como em qualquer outro amplo aspecto musical, pode-se quebrar estas regras a qualquer momento! O fato dos captadores serem em stereo faz com que se possa enviar o sinal das cordas agudas para processadores de efeito tais como reverb, distortion, delay e flanger enquanto as cordas graves podem ir para um compressor, envelope follower e tremolo, por exemplo. Enfim, o instrumento está aí aguardando mentes abertas para a experimentação e, quem sabe, um novo caminho alternativo para a música, que teima em ter instrumentistas que se contentam em, simplesmente, reafirmar o mesmo de sempre: Aquilo que já foi dito!

Ah! Ali havia um Stick?..

Muitos de vocês, caros amigos, já ouviram o som do Stick em um disco famoso e nem se deram conta disto. Somente para se ter uma idéia, segue uma pequenina lista com os artistas, discos e o nome do Stickista na gravação:
·         Peter Gabriel: II, III, IV, Plays Live, Us, Secret World Live (todos com Tony Levin no Stick de 10 e 12 cordas)
·         Pink Floyd: A Momentary Lapse of Reason (Tony Levin novamente)
·         Yes: Union, ABWH (no Stick… Tony Levin! alguma dúvida?
·         King Crimson: Discipline, Beat, Three of Perfect Pair, Vroom, Thrak, B’Boom (quem poderia ser, senão… Tony Levin)
·         Tangerine Dream: Lily on the Beach (Paul Haslinger Stick 10 cordas)
·         Aerosmith: Nine Lives (Tom Hamilton Stick 10 cordas)
·         Dream Theater: Falling into Infinity (John Myung Stick MIDI 10 cordas)
·         Kajagoogoo: Islands (Nick Beggs Stick MIDI 10 cordas)
·         Paul Young: No Parlez (Pino Paladino! Sim, até o mestre do fretless pop rendeu-se ao StickBass)

 Music & Peace .:.